18 de agosto de 2014

«DA DIFERENÇA À IGUALDADE» - XVI SEMINÁRIO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE TOMAR
José Fernando Vasco segunda-feira, agosto 18, 2014 0 comentários

“ [...] uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Desembocaria na tomada de conhecimento, isto e, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre o nosso enraizamento como cidadãos da Terra...” 
MORIN, Edgar (2002).
Os sete saberes para a educação do futuro. Lisboa: Instituto Piaget, p. 66. 

Resultando de uma longa e profícua parceria entre a Câmara Municipal de Tomar e o Centro de Formação Os Templários, o XVI Seminário Regional de Educação abordou a temática “Da diferença à igualdade”. 

Partindo do conceito base de uma escola para todos e do reconhecimento de constituir, hoje e na sua essência, uma soma de parcelas diferenciadas; o seminário organizou-se em torno de três grandes questões: a educação não formal, os direitos das crianças e a multiculturalidade – questões com reflexos imediatos e evidentes na gestão de sala de aula. 

No primeiro painel - Educação não formal - Cristina Vieira (Fac. de Psicologia e Ciências da Educação, Univ. Coimbra) abordou as questões do género (comportamentos sociais expectáveis e reais) e da cidadania, bem como a permanência das estereotipias (ou da “adequação” dos papéis, como resultado dos estereótipos de género e como condicionante das escolhas sociais). 

  Face ao pré conceito/preconceito – “A casa é das mulheres, a rua é dos homens” - há que promover a igualdade de oportunidades, independentemente do sexo biológico; a socialização diferencial de cada um dos sexos, desde muito cedo. O papel da escola e dos professores é essencial. Guiões de suporte ao combate às estereotipias (www.cig.gov.pt) já existem para o ensino básico e, presentemente, está a ser terminado um guião destinado ao ensino secundário. 

Segundo La Salette Coelho (ENED – Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimento), o propósito fundamental da escola em formar cidadãos corre o risco de ser remetido para segundo plano face ao objetivo de formar profissionais. Sendo que a ENED tem como missão «promover a educação para a cidadania global», isto é, estimular processos de resposta aos desafios no mundo global; defende, na linha de Marjorie Drake, os seguintes princípios unificadores e pilares: interdependência, cidadania global, reconhecimento da diversidade, a promoção do desenvolvimento sustentável, da justiça social e dos Direitos Humanos; numa estratégia de identificação de perceções, promoção de valores e resolução ativa de conflitos. Defendendo a formação integral da pessoa e um processo de mudança rumo a uma cidadania global responsável e mobilizando instrumentos de luta contra a exclusão, injustiça e desigualdades sociais; a ENED visa centrar no processo de aprendizagem uma estratégia de ação/reflexão (saber ser, saber fazer, saber saber), promover a equidade mais do que igualdade, o auto conhecimento e a empatia, a adaptabilidade ao contexto e a abertura ao conhecimento do outro. Como disse Boaventura Sousa Santos, “Tenho direito de ser igual quando a diferença me inferioriza. Tenho direito de ser diferente quando a igualdade me descaracteriza”. A AidGlobal, representada por Susana Damasceno, defendeu a ideia de “educar para cooperar”, ou seja, a possibilidade e importância da integração da educação para o desenvolvimento no currículo.

No segundo painel - A promoção dos direitos das crianças - Jorge Varela (ex-presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens das Caldas da Rainha) defendeu que a criança é sujeito de direitos, isto é, titular dos mesmos; o que representa, face ao passado, uma mudança de paradigma. De acordo com a Constituição da República Portuguesa, nos artigos 36º e 69º; e de acordo com o direito comunitário e o restante direito internacional, a Humanidade deve à criança o melhor dos seus esforços, no superior interesse da criança: nomeadamente, na garantia do seu desenvolvimento físico, intelectual, moral, espiritual e social. Defendendo que as CPCJ devem ajudar os pais a proteger as crianças e a garantir-lhes os direitos à vida, nome (dignidade), liberdade de expressão (como sujeitos de direitos), a igualdade jurídica de oportunidades, a brincar, à educação e à proteção. As CPCJ devem pois promover ações de defesa ativa dos direitos e de prevenção dos maus tratos e responder aos casos concretos.
Na relação entre a criança e a Escola, defendeu que o exercício da autoridade pelo professor é um direito inalienável da criança e, logo, um dever do professor. Argumentou ainda em torno de não ter sentido um Estatuto do Aluno, porque existem alunos na sua imensa diferença: “só quando formos todos diferentes é que seremos todos iguais.”

No terceiro painel - multiculturalidades na Escola - Cristina Milagre (Alto Comissariado para as Migrações), defendendo uma escola intercultural afirmou que “desocultar a diversidade já é valorizá-la”. Para ajudar os professores e as escolas a promover ativamente a interculturalidade, elaborou-se um “Guia de avaliação de Práticas de Educação Intercultural”, um instrumento crítico que aponta desafios e pistas, questiona práticas e promove um balanço crítico. Sendo a interculturalidade uma opção deliberada de gestão e estando prevista no Projeto Educativo (intencionalidade coletiva) de uma escola, o apoio do ACIDI/ACM - bolsa de formadores, Kit intercultural Escolas e atribuição de Selo Escola Intercultural – visa incentivar a recolha sistemática de dados, a avaliação sistemática de práticas, o processo de monitorização de resultados escolares dos alunos de minorias culturais, o estabelecimento de medidas de apoio, a valorização da língua materna dos alunos e da diversidade religiosa, a promoção de rotinas de acolhimento, da participação dos pais; a intervenção de mediadores interculturais e/ou linguísticos, a adoção de uma linguagem inclusiva e não estereotipada e de estratégias e instrumentos de combate aos estereótipos; de modo a que diversidade cultural se reflita no esquema de representação social. Os programas de intervenção residem em 4 opções estratégicas: a educação para a diversidade cultural e para todos, a educação para o sucesso educativo das minorias, a educação antirracista e a educação sistémica.

Sílvia Moreira, do Programa Escolhas (Tomar, “O Rumo Certo”) exemplificou casos de intervenção junto de jovens de meios desfavorecidos, através de cinco linhas de atuação/programas: I - Escolhas na Escola - coadjuvação de expressões; II - Formação profissional e estratégias de procura ativa de emprego; III - Dinamização comunitária; IV - Inclusão digital; V - Empreendedorismo e capacitação. Ana Raquel Simões (Universidade de Aveiro) defendeu a aliança entre a educação para a multiculturalidade e a educação em línguas nas escolas (“de um mundo a preto e branco a um mundo colorido“). Na sua opinião, as línguas podem contribuir para a desconstrução dos preconceitos: “a língua portuguesa plural fica sempre mais bonita, parece um sonho...” (Ondjaki) Natália Ramos (Universidade Aberta) relembrou que "aprender a gerir a diversidade cultural é a riqueza das sociedades futuras“ (WOLTON: 2003), na sequência da “Declaração Universal da Diversidade Cultural” (UNESCO: 2001).

Luís Souta (Instituto Politécnico de Setúbal), no âmbito dos 40 anos da Revolução de Abril, procedeu ao balanço da educação multicultural em 4 andamentos, a saber: 1. Antes do 25 de Abril; 2. Abrir os braços - Roberto Carneiro (transformação top-down): consagração da diversidade linguística, programas, base de dados, diversidade religiosa, formação superior para a educação intercultural e “Recomendação 1/2001” do CNE; 3. EB competências essenciais (retórica). Comissão para as minorias étnicas; 4. 2011-... mudança na Europa - à direita volver: “o multiculturalismo faliu” (MERKEL: 2010); referendo na Suíça; Sarkozy (“uma comunidade nacional, quem não quiser não é bem vindo”); deportação da estudante kosovar; nomeação de primeiro-ministro xenófobo, em França.

Luiza Cortesão, refletindo sobre diversidade cultural e educação, citou José Francisco Soares (2005): “a proficiência escolar tem género, cor e é distribuído de forma desigual entre as regiões do país e as redes de ensino.” Maria do Carmo Vieira da Silva deu “a voz aos alunos” de modo a obter a sua perceção sobre a multiculturalidade: “conhecer culturas novas nunca fez mal a ninguém!” 

O XVI Seminário Regional de Educação foi uma excelente oportunidade para uma reflexão conjunta sobre o papel da escola na sua função mais nobre: a promoção da equidade e da liberdade enquanto condições base essenciais para o integral desenvolvimento humano, individual e social. Apesar de no atual «quarto andamento» (Luís Souta) o nobre princípio de defesa da multiculturalidade/ interculturalidade estar ameaçado pela ideologia e práticas políticas dominantes, negar a existência da diversidade é negar o potencial da espécie humana. Combater os preconceitos e reconhecer e valorizar as minorias étnicas, culturais ou linguísticas é uma das tarefas essenciais da educação do século XXI, em direção a uma antropo-ética (MORIN: 2002). 
Em jeito de conclusão – e reafirmando os princípios e valores da educação para a multiculturalidade/ interculturalidade como por mim já adotados há muitos anos; “é muito importante que a liberdade, na Educação como no resto da vida política, social, cultural e económica, se viva respeitando a justiça, a equidade no tratamento dos cidadãos de acordo com as suas necessidades específicas…” (GUINOTE: 2014).
Lisboa, 12 de maio de 2014.

NATIVOS DIGITAIS VS. IMIGRANTES DIGITAIS - UMA FALSA OPOSIÇÃO
José Fernando Vasco segunda-feira, agosto 18, 2014 0 comentários


“O Conhecimento será determinante no aproveitamento da conectividade […] O Conhecimento constituirá o factor-chave na interpretação e no uso da informação […] O Conhecimento implicará a existência de cidadãos melhor preparados […] O carácter estratégico do Conhecimento implica que se vá muito mais longe na preparação das pessoas […] durante toda a vida.”


Junqueiro, Raul (2002). A idade do conhecimento. Lisboa: Editorial Notícias, p. 26.

Nos inícios da segunda década do século XXI e após vinte anos de “revolução silenciosa” (Junqueiro: 22), importa continuar a reflectir sobre os fortes impactos da mudança de paradigma que a “revolução digital” trouxe para as sociedades contemporâneas sem que, com tal desiderato, tenhamos uma postura catastrofista ou ilusória perante as tecnologias da informação e da comunicação.

A propósito da discussão em torno de uma oposição entre gerações – a analógica e a digital; entre uma geração de “nativos digitais” que, pretensamente, lidam com as novas tecnologias de forma tão natural como no “acto de respirar”, e uma geração originalmente analógica e que, com menor ou maior dificuldade, tem procurado integrar-se na nova “idade do conhecimento (Junqueiro: 29); torna-se necessário evitar uma postura de menosprezo do problema e, simultaneamente, evitar cair naquilo que David Justino denuncia: o “fascínio pela tecnologia [que] pode rapidamente transformar-se numa ilusão.” (Difícil é educá-los, 2010, p. 83)

Educadores, professores, pais e cidadãos em geral, nascidos nas décadas de 50 e 60 do século XX espantam-se, nos dias de hoje, com algumas demonstrações – ainda que básicas – de competências digitais que as gerações mais novas revelam: espantam-se com o número de “amigos” no MSN ou no Facebook, a rapidez e o número de SMS enviados diariamente pelos “nativos digitais”, as destrezas e a apetências por jogos online e/ou em consolas, etc.

Contudo, estas evidências, se incontestáveis, mais não são do que a superfície de um problema nuclear das sociedades (e da educação) contemporâneas.

Importa, pois, aprofundar a análise para se perceber que a emergência de novas estruturas económicas, políticas, sociais, culturais e, até, mentais, que a globalização e o advento do digital impulsionaram. Trata-se do desafio maior da qualificação humana, num mundo em que produtividade e competição são valores chave para o desenvolvimento.

É precisamente nesta questão que se deve centrar a discussão pré-anunciada no título desta intervenção. Considero que a oposição “nativo digital versus imigrante digital” é uma falsa questão que a simples observação da realidade revela.

Em primeiro lugar, nem todos os que nasceram na década de 90 têm por adquiridas as competências essenciais e estruturantes no que à manipulação das tecnologias da informação e comunicação concerne. Basta observar atentamente os utilizadores-alunos da biblioteca escolar que dirijo para perceber que existem lacunas gerais da sua formação que, claramente, são inibidoras da sua integração bem sucedida na “sociedade do conhecimento”.

Regra geral, a sua utilização das TIC apresenta-se a um nível consideravelmente básico. Navegam na internet para encontrar informação mas revelam dificuldades sérias na sua selecção e avaliação. Utilizam programas de apresentação digital ou de processamento de texto, mas desconhecem no geral como maximizar (em termos de estruturação, estética e eficácia na comunicação) o potencial dessas ferramentas. Usam o SMS, Twitter ou outras ferramentas de comunicação curta e imediata mas, no geral, não se apercebem da existência de “ruído” por eles próprios gerado, em prol da velocidade e imediatismo no próprio acto de comunicar. Adoram jogos online e consolas mas raramente os utilizam em contextos de aprendizagem, sobrepondo-se a estes o lazer puro. Surpreendentemente ou não, não são os principais utilizadores de redes sociais – como o Facebook – conforme estudos recentes em Portugal o demonstraram. E, sobretudo, muitos desses utilizadores-alunos, tal como muitos dos seus professores, ainda não perceberam na sua plenitude que as TIC são ferramentas/instrumentos e não fins em si, ou seja, produtos da “ilusão” perante a tecnologia e o conhecimento: a informação, em múltiplos suportes analógicos e digitais com utilização integrada, deve induzir “a capacidade de produzir nova informação, resultante da elaboração sistemática e racional da primeira” (Justino: 84), isto é, “mais do que aprender a fazer, as aprendizagens têm de orientar-se para o aprender a pensar (Justino: 84), durante toda a vida.

A fraca apetência pela abordagem tecnológica, o receio perante a mudança (é muito mais cómoda a postura sedentária perante a vida e o mundo do que uma postura nómada) e a incompreensão perante todo um novo léxico que a “revolução digital” trouxe para a vida quotidiana; introduziram problemas de integração na sociedade do conhecimento, por parte de gerações mais velhas ou de grupos sociais económica, social e culturalmente desfavorecidos à partida, bem como de muitos e de várias gerações que se deixaram seduzir pela “ilusão” perante a tecnologia.

A info-exclusão é, na minha opinião e em sociedades onde não se queira perder o valor da equidade, o desafio maior da “sociedade do conhecimento”. Aqui, o problema não reside apenas nos resistentes do “mundo analógico” mas, sobretudo, numa nova fase da/de (r)evolução da Humanidade, na necessidade de preparação de cidadãos responsáveis e capazes de exercer a(s) nova(s) cidadanias, muito para além da “busca obsessiva da acção” (Justino: 94)

Por isso, a oposição “nativos digitais versus imigrantes digitais” parece-me brutalmente redutora do problema, bem como me parece uma “ilusão” perigosa a proposta de Prensky em colocar o jogo e o recreativo no centro do complexo e difícil processo de aprendizagem e de formação.

Em boa verdade, a busca da compreensão do alcance das transformações que as sociedades contemporâneas têm vivido – e nelas, o papel da educação – talvez ainda necessite de uma abordagem mais “demorada e sublime” que apenas tempo e investigação permitirão.

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Texto publicado originalmente a 14.01.2011 no blogue BECRE

ES CACILHAS-TEJO: UMA ESCOLA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
José Fernando Vasco segunda-feira, agosto 18, 2014 0 comentários


Reconhecendo a diversidade étnico-cultural da população da área em que se integra e assumindo a sua “vocação social radical” (PEE, 2008-2013), a Escola Secundária de Cacilhas-Tejo (ESCT) define-se como...

Uma Escola na Sociedade do Conhecimento;
Uma Escola integradora, diversificada e respeitadora das diferenças;
Uma Escola participante das dinâmicas locais e regionais;
Uma Escola que prossiga os objectivos de rigor, qualidade e exigência;
Uma Escola disciplinadora e segura;
Uma Escola lugar de produção e extensão educativa e cultural. 

Como Escola de referência a nível local, regional e nacional que pretende ser – e diariamente persegue esse objectivo – a sua missão assenta nos princípios da “Qualidade, Exigência e Rigor e Responsabilidade Cívica” (PEE, 2008-2013).

Uma Escola para todos na sociedade do conhecimento implica a ideia de serviço público de educação que privilegia o conhecimento enquanto construção de informação, reflexão, vivências e afectividades; o entendimento do aluno como ponto axial da educação e a sua aprendizagem como a finalidade e razão de ser última do serviço prestado.

A construção da cidadania pressupõe liberdade, autonomia, consciência cívica e responsabilidade na acção; e esse processo é desenvolvido diariamente na ESCT: na prática lectiva, no desenvolvimento de Projectos, na organização dos serviços e na liderança.

A procura de respostas pedagógicas para as diferentes necessidades dos utentes deste serviço público de educação (alunos dos cursos científico-humanísticos, profissionais, ensino recorrente, adultos dos cursos EFA ou em processo de RVCC) encontra-se na oferta diversificada que a ESCT e o Centro Novas Oportunidades de Cacilhas oferecem.

A inovação pedagógica, com recurso às tecnologias da informação e comunicação e alicerçada em sólidas bases científico-pedagógicas, é evidenciada pelo reconhecimento público de conhecimentos e competências dos alunos que, individual ou colectivamente, têm sido distinguidos em concursos e em exposições de trabalhos, nomeadamente nas áreas das ciências e tecnologias ou do design gráfico.

A articulação com a comunidade envolvente é prioritária na estratégia de planeamento/ acção educativas, seja pela existência de protocolos com associações locais (“O Farol”), na prossecução de projectos que envolvem alunos de outros níveis de ensino (“Projecto de Ciências Experimentais no 1º ciclo”), numa abordagem integradora da realidade intercultural (Projecto “Eu e o Outro – olhares entre culturas” e “Curso de Português para Falantes de Outras Línguas”) ou na orientação escolar e profissional (“Mini-Fórum Estudante”).

A participação dos alunos na vida da escola e a expressão da sua criatividade é apoiada pela Direcção, seja pelo contacto próximo com os delegados de turma, pelo apoio à Associação de Estudantes, a actividades propostos pelos alunos ou pelo desenvolvimento de projectos vocacionados (“Português com Vida”).

A promoção da consciência ambiental e de práticas para uma vida saudável tem sido prosseguida com êxito em iniciativas como “Cacilhas-Tejo Goes Green” ou com o Desporto Escolar (Voleibol, Futsal e Xadrez).

A Biblioteca Escolar (BECRE) organiza-se em função das necessidades de alunos e professores, estabelecendo prioridades e desenvolvendo iniciativas complementares à prática lectiva, organizadoras do acesso à informação e promotoras da construção do conhecimento. 

O reconhecimento interno da excelência do desempenho escolar dos alunos, indutor de boas práticas e atitudes positivas na vida da comunidade, é anualmente consagrado pelas “Notações de Mérito”.

A Escola Secundária de Cacilhas-Tejo projecta-se para o futuro como... 

Escola solidária: espaço de partilha de experiências e valores;
Escola autónoma, responsável e participante das dinâmicas locais e regionais;
Uma Escola‐espaço de formação permanente;
Uma Escola de boas práticas pedagógicas orientadas pelo princípio da exigência.

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Texto constante do painel de apresentação da Escola Secundária de Cacilhas-Tejo na «Mostra Ensino Superior, Secundário e Profissional 2010», organizada pela Câmara Municipal de Almada; e publicado originalmente a 06.05.2010 no blogue BECRE. Disponível em http://becre-esct.blogspot.com.

ESCOLHA DE UM PARADIGMA EDUCACIONAL
José Fernando Vasco segunda-feira, agosto 18, 2014 0 comentários

Segundo Yves Bertrand e Paul Valois, uma perspectiva sistémica das organizações educativas - «conjuntos de elementos estruturados que visam certos fins determinados pela sociedade, apoiados em estratégias e tácticas» - é o modelo analítico adequado para o estudo das relações entre aquelas e os diferentes tipos de sociedade - e dos efeitos das opções educativas sobre o todo social. Defendem que a mudança operacional, estratégica, ou paradigmática visa, respectivamente, a permanência, a adaptação ou a transformação radical da sociedade.

Segundo os autores, a organização educativa é «um subsistema aberto» e a relação escola-sociedade explicita-se em três campos de análise:
- o campo paradigmático: «transforma em orientações da actividade social, as generalizações e as concepções que englobam uma concepção do conhecimento e das relações entre a pessoa, a sociedade e a natureza, um conjunto de valores e interesses, uma forma de executar e uma significação global da actividade humana.» (Bertrand, Valois: 1994, 21)
- o campo político: «onde se opera a transformação das orientações definidas pelo campo paradigmático em normas, leis e regras.» (Bertrand, Valois: 1994, 21)
- o campo organizacional: campo da «concretização de fins específicos.» (Bertrand, Valois: 1994, 22)

A reflexão sobre os paradigmas socioculturais que exprimem a «acção exercida pela sociedade, a partir da sua actividade, sobre as suas práticas sociais e culturais, através da combinação de cinco componentes: uma concepção de conhecimento, uma concepção das relações entre a pessoa, a sociedade e a natureza; um conjunto de valores e interesses, uma forma de executar e um significado global da actividade humana.» (Bertrand, Valois: 1994, 29); complementa-se com a reflexão sobre a articulação entre os inputs que as organizações educativas recebem da sociedade - o que a sociedade espera delas - e a retro-informação gerada através do questionamento dos modelos e abordagens, práticas pedagógicas e resultados: aí estamos no domínio dos paradigmas educacionais.

Quatro paradigmas socioculturais são colocados para a nossa reflexão:
1. O paradigma industrial - «aplicação da racionalidade científica às actividades humanas e [...] crença no progresso material» (Bertrand, Valois, 1994: 85)
2. O paradigma sociocultural existencial - «criação de uma sociedade centrada na pessoa» que vise «o crescimento e a formação afectiva das pessoas», o que implica a superação da sociedade industrial (Bertrand, Valois, 1994: 40)
3. O paradigma sociocultural da dialéctica social - «visa uma modificação profunda da organização da sociedade» (Bertrand, Valois, 1994: 40), em prol do «ser social».
4. O paradigma sociocultural simbiosinergénico - uma visão simultânea em termos sociais, ecológicos e espirituais, em prol da formação de «novas comunidades» e do «mutualismo não-hierárquico».

Numa opção consciente e criteriosa por um paradigma educacional deverá estar subjacente a reflexão sobre as diversas funções, fundamentais para os fins que qualquer organização educativa deve/escolhe perseguir:
* função epistemológica - forma e modo(s) de conhecimento, de apreensão da realidade, o que implica uma reflexão sobre as oposições ensino vs. instrução, transmissão vs. aprendizagem, e os papéis do aluno e do professor.
* função cultural - modelo de criatividade, de mudança da realidade, da ideia de cultura, pessoa, valores e interesses.
* função política - modelo de tomada de decisões - o que implica uma reflexão sobre as oposições centralização vs autonomia, direcção vs autogestão.
* função económica e social - permanência, adaptação ou transformação societal.

Os autores de «Paradigmas educacionais - escola e sociedades» (1994) identificam cinco paradigmas educacionais que se articulam com quatro paradigmas socioculturais que correspondem a outras tantas visões/tipos de sociedade:
1. paradigma racional (abordagem mecanicista) <-> paradigma sociocultural industrial <-> sociedade industrial: defende o modo de conhecimento racional e a concepção reducionista da pessoa: «o conhecimento é uma imagem objectiva e exterior ao sujeito» (Bertrand, Valois, 1994: 86); a primazia do individualismo e do interesse económico: «a sociedade [...] como um agregado de indivíduos que se comportam de forma individualista»; «inscreve os seres humanos em relações de autoridade»; a «noção de igualdade de oportunidades»; a «competição justa [...] meritocracia [...] concepção de liberdade» (Bertrand, Valois, 1994: 90-91); a transmissão de um saber (conhecimento, valores) predeterminado; a ciência como modelo de conhecimento; a ideia de progresso, sobretudo económico e científico; a adaptação do aluno à sociedade; a instrução.
2. paradigma tecnológico (abordagem tecno-sistémica) <-> paradigma sociocultural industrial <-> sociedade industrial: defende o modo de conhecimento racional e a construção do "ser tecnológico", o desenvolvimento tecnológico e imagem de tecno-criatividade, privilegia o "como " ao "porquê", o predomínio da ciência e da tecnologia, a eficácia no ensino e na aprendizagem, na transmissão dos conhecimentos, verificados empiricamente; privilegia as tecnologias e modos/estratégias de comunicação, os resultados e validação da acção educativa, a desideologização dos problemas, abordados atomizadamente e sob uma perspectiva tecnológica; e encara a educação como ciência - estruturas hierárquicas que garantam a eficácia da aprendizagem; a educação como «metodologia de organização das situações de aprendizagem» (Bertrand, Valois, 1994: 113); o professor como pensador e organizador. Advoga a abordagem sistémica e hipermediatizada.
3. paradigma humanista (abordagem orgânica) <-> paradigma sociocultural humanista <-> sociedade centrada na pessoa: encara o modo de conhecimento (subjectivo e inclusivo) como processo (relações) total do indivíduo e defende uma sociedade centrada na pessoa e no seu desenvolvimento; advoga a primazia da liberdade e da existência subjectiva, isto é, individual, a criatividade subjectiva e a interacção entre as pessoas; critica o autoritarismo; encara o aluno como «agente activo e primeiro do seu processo de aprendizagem, [...] o resultado da interacção entre o aluno e o ambiente» e o professor, na esteira de Rogers (1976), como facilitador e guia, isto é, o "aprender a aprender".
4. paradigma sociointeraccional (abordagem da autogestão pedagógica) <-> paradigma sociocultural da dialéctica social <-> sociedade autogerida: defende o modo de conhecimento dialéctico (experiência <-> cultura <-> pensamento) ; a não separação sujeito/objecto do conhecimento ; a lógica da totalização; a integração da pessoa na sociedade => ser social; a recusa do idealismo, os valores da liberdade, igualdade e justiça e a recusa do autoritarismo, da hierarquia e da opressão; a autogestão educativa/pedagógica, produto/indutora da autogestão política; o aluno deve, pois, constituir-se como analista social em prol de uma ruptura na sociedade/novos sistema de influência/novas forças sociais.
5. paradigma inventivo (abordagem da pedagogia social do autodesenvolvimento) <-> paradigma sociocultural simbiosinergénico <-> novas comunidades: aborda o «macroproblema mundial»,simultaneamente numa dimensão ecológica (Homem <-> Terra), societal (indivíduo <-> indivíduo <-> indivíduo), praxeológica (acção <-> efeito), cósmica (processo de hominização) e espiritual (Indivíduo <-> Todo); defende o modo simbiótico (sujeito#objecto) de conhecimento ; a ciência global da vida, recusando as separações artificiais ; a actividade e a liberdade como motores do progresso histórico e cósmico; a existência de comunidades (mutualismo não hierárquico), não sociedades, onde o indivíduo como holon, integrado num ecossitema, seja um trabalhador-criador, em prol da invenção do futuro; defende a promoção da heterogeneidade e das diferenças <-> simbiosinergia; e a pedagogia social do autodesenvolvimento - saber fazer / saber pensar / saber viver em conjunto / saber partilhar / saber comunicar.

A escolha de um paradigma educacional e de uma abordagem pedagógica implica a opção por um tipo de sociedade. Para os autores, «a educação deve assumir um duplo papel [...:] assegurar, ao mesmo tempo, uma certa permanência da aquisição e uma crítica desta aquisição numa perspectiva de transformação societal.» (Bertrand, Valois, 1994: 254). Apesar de claramente tenderem para a resolução do «macroproblema mundial» através da adopção do paradigma sociocultural simbiosinergénico que pressupõe outra concepção de organização educativa e, mesmo, de aprendizagem muito para além da realidade actual.

Acredito que nenhum destes paradigmas é adoptado e posto em prática de forma pura. Acredito inclusive que, em todas as escolas portuguesas, cada aluno terá já tomado contacto com professores que defendem, de uma forma mais ou menos convicta, mais ou menos militante, diferentes paradigmas educacionais, sobretudo o racional, o tecnológico e o humanista. Se a legislação portuguesa que regulamenta o sistema educativo parece-me adoptar o paradigma humanista, permanecem em número e influência assinaláveis os defensores do paradigma racional e, mais recentemente, os defensores do paradigma tecnológico, agora com novas roupagens e, muitas vezes, outros equívocos.
Os paradigmas socio-interaccional e inventivo permanecem, a meu ver, como verdadeiras utopias mas este último apresenta-nos reflexões interessantes sobre o que poderá vir a ser a educação do futuro e o modo de encarar a aprendizagem e o conhecimento. Talvez necessitemos de um novo paradigma que conjugue vários dos elementos dos paradigmas apresentados por Yves Bertrand e Paul Valois.

Texto publicado originalmente a 27.01.2011 no blogue BECRE e revisto em Agosto de 2014.
Versão original disponível em http://becre-esct.blogspot.com

EDUCAÇÃO PARA OS MEDIA
José Fernando Vasco segunda-feira, agosto 18, 2014 0 comentários


Nos inícios da segunda década do século XXI e após vinte anos de “revolução silenciosa”, importa continuar a refletir sobre os fortes impactos da mudança de paradigma que a “revolução digital” trouxe para as sociedades contemporâneas.
Em sociedades onde não se queira perder o valor da equidade, a info-exclusão é o desafio maior da “sociedade do conhecimento”. Aqui, o problema não reside apenas nos resistentes do “mundo analógico” mas, sobretudo, na necessidade de preparação de cidadãos responsáveis e capazes de exercer a(s) nova(s) cidadanias.
Ou, como defende Edgar Morin (2002) talvez precisemos de encarar o conhecimento não como um "ready made" mas sob critérios de pertinência. Seguramente precisamos de ensinar aos nossos alunos a "condição humana" e a "identidade terrena", de os dotar de ferramentas para lidarem com a "incerteza" - ainda para mais num mundo em acelerada e, muitas vezes, imprevisível transformação e onde a crítica e a autocrítica são tão necessárias.
O vídeo apresentado por RevistaComunicar sobre a temática da "Educação para os Media", do programa Nativos Digitais da RTP2, é um bom contributo para a reflexão e debate na sociedade, no seu conjunto.
Alunos, professores e pais são agentes essenciais nesse debate.

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Texto publicado originalmente a 14.10.2011 no blogue BECRE



9 de agosto de 2014

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO NO SÉCULO XXI
José Fernando Vasco sábado, agosto 09, 2014 0 comentários

A Escola Secundária de Cacilhas-Tejo (ESCT) defende a formação de cidadãos críticos, conscientes e responsáveis, no âmbito de uma sociedade democrática que promova o desenvolvimento da personalidade humana e o progresso espiritual, moral, social, cultural e económico.

O fomento da autonomia e criatividade do aluno, a defesa da herança cultural, do respeito pela diversidade e pela liberdade intelectual, essencial para o exercício da cidadania, espelha-se na opção por uma oferta educativa diversificada, ao nível de cursos e modalidades de formação que procuram responder a necessidades de uma população escolar heterogénea.

Os cursos de ensino secundário em regime diurno visam a dupla função de prosseguimento de estudos e de preparação para a entrada no mercado de trabalho. Defende-se o rigor científico e o planeamento do trabalho dos alunos que promova a sua criatividade e a aquisição de competências. A oferta formativa para os adultos em regime nocturno visa garantir uma nova oportunidade de formação que garanta o progresso global de cada adulto e da comunidade no seu todo.

Por isso, o conceito de aprendizagem preconizado pela ESCT é o da aprendizagem ao longo da vida. Tal pressupõe, antes de mais, o livre acesso à informação que só se torna verdadeiramente efectivo com o desenvolvimento de competências ao nível da leitura e literacias, da resolução de problemas e de utilização das tecnologias da informação e comunicação. 

São vectores que orientam a prática lectiva, o desenvolvimento de projectos, a orientação de estruturas – como a Biblioteca Escolar – e a missão do Centro Novas Oportunidades:

* a aprendizagem da leitura e o desenvolvimento das literacias;
* o desenvolvimento de competências ao nível da selecção, produção e utilização da informação;
* o desenvolvimento da autonomia na aprendizagem;
* o desenvolvimento da criatividade e do bem-estar pessoal perante a aprendizagem;
* o aprofundamento da cultura cívica, científica, tecnológica e artística.

Ambientes de aprendizagem diversificados e centrados no aluno/adulto defendem o desenvolvimento da personalidade humana. A ESCT procura criar ambientes correctos, positivos e envolventes de aprendizagem, promovendo simultaneamente a noção de pertença e integração na comunidade escolar e o respeito pelos direitos humanos, condições essenciais na formação para a cidadania na sociedade do conhecimento.
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Texto constante do painel de apresentação da Escola Secundária de Cacilhas-Tejo na «Mostra Ensino Superior, Secundário e Profissional 2011», organizada pela Câmara Municipal de Almada; e publicado originalmente a 04.05.2011 no blogue BECRE. Disponível em http://becre-esct.blogspot.com.