28 de fevereiro de 2015

IN2TheFuture/Mini Fórum Estudante 2015 da ESCT chegou e encantou!
BECRE XXI sábado, fevereiro 28, 2015 0 comentários

Inspiring Future ensinou os alunos do 12º ano a candidatarem-se ao ensino superior, a tomarem decisões assertivas e a enfrentarem os desafios da vida ativa. Enquanto isso, os alunos do 10º e do 11 º ano divertiam-se e aprendiam com o Eco Peddy Papper.
Fantásticos ex-alunos encantaram uma imensa plateia de alunos de 10 ano, trazendo experiências, memórias e viagens e o recado:" vale a pena sonhar, acreditar e lutar pela concretização do que se quer"! Obrigada Nuno Saraiva, Catarina Oliveira e Filipa Coutinho.
Tivemos inspiradoras masterclasses que ensinaram os alunos, a desenvolverem competências para criar e divulgar protótipos e a desenvolverem os seus próprios planos de negócios. Aulas que ajudaram os alunos a dar sentido ao plano pessoal de estudos e a descobrirem a paixão de Ser e Fazer. Obrigada professores António Câmara e demais responsáveis pelos workshops.
E nada melhor, para encerrar esta festa da orientação educativa, que a partilha e os conselhos dos nossos pais, no painel "Orgulho em Ser" e a participação especial da nossa diretora, profª. Margarida Fonseca.
Enquanto uns aprendiam, outros divertiam-se e a turma 11L contribui com o Foto Morphing transformando as nossas caras em adoráveis ET's ...
Na cerimónia de encerramento feita pela nossa diretora e na presença de toda a equipa organizadora, os nossos fantásticos bailarinos do Movimentus deliciaram-nos com um espetáculo coreografado pela prof.ª Virgínia Gonçalves. Foi um grande momento!
Parabéns a todos!
Dia 19 de fevereiro na BECRE

Workshops "Inspiring Future"
Workshop 1 - «Uma decisão que é a tua cara»
Workshop 2 - Acesso ao Ensino Superior
Workshop 3 - Como sobreviver de salto alto e gravata
 Painel de ex-alunos - «As nossas escolhas»
Da esquerda para a direita - Catarina Oliveira (EuroPass), Nuno Saraiva (Diário de Notícias),
Filipa Coutinho (Gap Year) e Margarida Fonseca (Diretora ESCT)
Encontros, com Didier Ferreira
Didier Ferreira, autor de «Diário poético de um empregado de balcão»,
obra apresentada pela primeira vez em público na BECRE
O espaço Multiusos da BECRE encheu para o lançamento de «O Diário poético de um empregado de balcão».
A obra foi apresentada por Ermelinda Toscano e contou com a presença do editor de A Esfera do Caos

Dia 20 de fevereiro na BECRE
António Moreira (coordenador do Departamento de Artes) e António Câmara (Ydreams)
no workshop 4 - «Como se tornar um inventor»
Uma plateia atenta e rendida à capacidade de comunicação de António Câmara (Ydreams)
José Lourenço Cunha (moderador) e Rafal Bogel no
workshop 5 «Ambiente e Sustentabilidade»
 Sessão de encerramento
Equipa organizadora de IN2The Future/Mini Fórum 2015

Atuação de «Movimentus»,
coordenado por Virgínia Gonçalves

Teresa Castanheira
(texto)
José Fernando Vasco
(fotos e vídeo)

25 de fevereiro de 2015

«O Enigma da Caixa de Música» no ciclo de cinema «A (i) moralidade da guerra» - programa CINEARTE
BECRE XXI quarta-feira, fevereiro 25, 2015 0 comentários

«Music Box» (1989)
Realização: Costa-Gavras

Atores:
Jessica Lange, Armin Mueller-Stahl, Frederic Forrest, Donald Moffat, Lukas Haas, Cheryl Lynn Bruce, Mari Törõcsik, J.S. Block, Sol Frieder, Michael Rooker, Elzbieta Czyzewska, Magda Szekely Marburg, Felix Shuman, Michael Shillo, George Pusep, Mitchell Litrofsky, Albert Hall.

Duração: 113 minutos

Sinopse:
Como advogada, só queria a verdade
Como filha, só desejava a sua inocência.
Protagonizado por Jessica Lange, vencedora de um Oscar® em 1982 (Melhor Actriz Secundária por Tootsie), «O Enigma da Caixa de Música» («Music Box» - título original) combina suspense com uma comovente história de amor entre pai e filha. Numa interpretação reconhecida com uma nomeação ao Oscar, Lange dá vida a Anne Talbot, uma prestigiada advogada criminal que tem de defender o seu pai. Mike Laszlo (Armin Mueller-Stahl) é acusado de milhares de crimes de guerra, cometidos presumivelmente como membro da Secção Especial Nazi da Hungria há quase cinquenta anos. À medida que surgem novas provas e no momento em que o julgamento é transferido para Budapeste, Anne começa a duvidar da inocência do seu pai.

Fonte:
DVD.pt

Atividade co-organizada pela BECRE e pelo Departamento de Filosofia

«Memória(s) dos Barcos do Tejo» de Luís Serra
BECRE XXI quarta-feira, fevereiro 25, 2015 0 comentários

É inaugurada hoje, pelas 15:00 horas, a exposição «Memória(s) dos Barcos do Tejo», uma co organização ESCT/O Farol numa apresentação de miniaturas de barcos que navegaram/navegam no rio Tejo, fazendo a ligação entre as suas duas margens.
O autor das miniaturas é Luís Serra e a exposição estará patente na ES Cacilhas-Tejo (manga A-B) até ao próximo dia 6 de março de 2015.

Vale a pena ver de perto a exposição e admirar os pormenores dos modelos apresentados.









«Barcos do Tejo»


Fonte:




23 de fevereiro de 2015

Eça de Queirós, escritor do mês
BECRE XXI segunda-feira, fevereiro 23, 2015 0 comentários

José Maria Eça de Queiroz, oriundo de Póvoa do Varzim, foi um dos escritores mais expressivos do século XIX. Nascido a 25 de Novembro de 1845, desenvolveu a sua prática literária entre 1860 e 1900, data da sua morte. A originalidade, assim como a riqueza do seu estilo e linguagem, marcaram indelevelmente a literatura portuguesa, não só pelo realismo descritivo, como também pela incisiva crítica social presente nos seus textos. Além de escritor e ensaísta, Eça de Queiroz foi uma personalidade empenhada e interventiva na sociedade em que viveu, tendo mesmo ocupado alguns cargos políticos. A sua vasta obra, alguma inédita à data da sua morte, encontra-se traduzida um pouco por todo o mundo, permanecendo, assim, viva e atual.

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Portugal sob a lupa de Eça de Queiroz

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«Nesse mesmo ano [1888] aparecem Os Maias, romance onde Eça atinge o zénite da sua carreira de escritor; a técnica romanesca impecável acha-se posta ao serviço de um grande painel desmitificador de uma sociedade corrupta, ultrapassada, de "aristocracia hereditária com base rural». Nas suas páginas, ressuscita a vida mundana de Lisboa de há cem anos. [...] aquilo que noutros romances seus ainda podia ser interpretado como simples sátira, adquire em Os Maias a textura do panfleto bem repensado e posto ao serviço da ideia programática de condenar "toda a sociedade constitucional", como escreveu numa carta enviada a Ramalho [Ortigão].»

MOURA, Helena Cidade (1977). Breve Apresentação, in: Os Maias. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 7.
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Disponível para consulta na BECRE:




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Grandes Livros/Episódio 1 - «Os Maias» de Eça de Queirós:



Resumo da obra literária de Eça de Queirós,
incluindo trechos da série da TV Globo (Brasil) baseada em «Os Maias»:
Parte 1/3 - Parte 2/3 - Parte 3/3

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Hiperligações:
Biblioteca Nacional/Eça de Queirós - bio-bibliografia; iconografia.
Farol das Letras/Eça de Queirós - Cronologia biobibliográfica.
Fundação Eça de Queiroz
Obras de Eça de Queirós - Versões electrónicas com texto integral.
Vidas Lusófonas/Eça de Queirós - Cronologia, vida e obra.

19 de fevereiro de 2015

«Se depois de eu morrer» de Alberto Caeiro
BECRE XXI quinta-feira, fevereiro 19, 2015 0 comentários

«Se depois de eu morrer» (1913-1915)
Poema de Alberto Caeiro, in: Poemas Inconjuntos
Declamado por Mário Viegas
Música de Hecq
Videopoema por CinePovero2009

Hiperligação:
Casa Fernando Pessoa




Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, 
Não há nada mais simples 
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. 
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. 

Sou fácil de definir. 
Vi como um danado. 
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma. 
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei. 
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver. 
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras; 
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. 
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais. 

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança. 
Fechei os olhos e dormi. 
Além disso, fui o único poeta da Natureza.

Fonte:
Videopoesia

15 de fevereiro de 2015

«Eros e Psique» de Fernando Pessoa, segundo Anabela Mota Ribeiro
BECRE XXI domingo, fevereiro 15, 2015 0 comentários

«Eros e Psique» (1934)
Poema de Fernando Pessoa, in: Poesia, 1931-1935. Assírio & Alvim.

Declamado por Anabela Mota Ribeiro
Música: Ryuichi Sakamoto
VideoPoema de Produções Ficticias/Projecto Voz

Hiperligação: Casa Fernando Pessoa




Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

13 de fevereiro de 2015

«Tabacaria» de Álvaro de Campos, segundo João Villaret + Dead Combo
BECRE XXI sexta-feira, fevereiro 13, 2015 0 comentários

«Tabacaria» (1928)
Poema de Álvaro de Campos, in: Poesias (1944)
Declamado por João Villaret
Instrumentação por Dead Combo

Fontes:





Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. 

Janelas do meu quarto, 
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é 
(E se soubessem quem é, o que saberiam?), 
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, 
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, 
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, 
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, 
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, 
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. 

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. 
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, 
E não tivesse mais irmandade com as coisas 
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua 
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada 
De dentro da minha cabeça, 
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. 
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo 
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, 
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. 

Falhei em tudo. 
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. 
A aprendizagem que me deram, 
Desci dela pela janela das traseiras da casa, 
Fui até ao campo com grandes propósitos. 
Mas lá encontrei só ervas e árvores, 
E quando havia gente era igual à outra. 
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar? 

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! 
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! 
Génio? Neste momento 
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, 
E a história não marcará, quem sabe?, nem um, 
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. 
Não, não creio em mim. 
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! 
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? 
Não, nem em mim... 
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo 
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? 
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - 
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, 
E quem sabe se realizáveis, 
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? 
O mundo é para quem nasce para o conquistar 
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. 
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. 
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, 
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. 
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, 
Ainda que não more nela; 
Serei sempre o que não nasceu para isso; 
Serei sempre só o que tinha qualidades; 
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta 
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, 
E ouviu a voz de Deus num poço tapado. 
Crer em mim? Não, nem em nada. 
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, 
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. 
Escravos cardíacos das estrelas, 
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; 
Mas acordámos e ele é opaco, 
Levantámo-nos e ele é alheio, 
Saímos de casa e ele é a terra inteira, 
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. 

(Come chocolates, pequena; 
Come chocolates! 
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. 
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come! 
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! 
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, 
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) 

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei 
A caligrafia rápida destes versos, 
Pórtico partido para o Impossível. 
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, 
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro 
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, 
E fico em casa sem camisa. 

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, 
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, 
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, 
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, 
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, 
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, 
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -, 
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado. 
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco 
A mim mesmo e não encontro nada. 
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. 
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, 
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, 
Vejo os cães que também existem, 
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, 
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) 

Vivi, estudei, amei, e até cri, 
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. 
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, 
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses 
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); 
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo 
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente. 

Fiz de mim o que não soube, 
E o que podia fazer de mim não o fiz. 
O dominó que vesti era errado. 
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. 
Quando quis tirar a máscara, 
Estava pegada à cara. 
Quando a tirei e me vi ao espelho, 
Já tinha envelhecido. 
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. 
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário 
Como um cão tolerado pela gerência 
Por ser inofensivo 
E vou escrever esta história para provar que sou sublime. 

Essência musical dos meus versos inúteis, 
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, 
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, 
Calcando aos pés a consciência de estar existindo, 
Como um tapete em que um bêbado tropeça 
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. 

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. 
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada 
E com o desconforto da alma mal-entendendo. 
Ele morrerá e eu morrerei. 
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. 
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, 
E a língua em que foram escritos os versos. 
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. 
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente 
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, 
Sempre uma coisa defronte da outra, 
Sempre uma coisa tão inútil como a outra, 
Sempre o impossível tão estúpido como o real, 
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, 
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. 

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), 
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. 
Semiergo-me enérgico, convencido, humano, 
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. 

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los 
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. 
Sigo o fumo como uma rota própria, 
E gozo, num momento sensitivo e competente, 
A libertação de todas as especulações 
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. 

Depois deito-me para trás na cadeira 
E continuo fumando. 
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. 

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira 
Talvez fosse feliz.) 
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. 

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). 
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. 
(O dono da Tabacaria chegou à porta.) 
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. 
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo 
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu. 

Fonte:
VideoPoesia

«Liberdade» segundo Fernando Pessoa
BECRE XXI sexta-feira, fevereiro 13, 2015 0 comentários

«Liberdade»
Poema de Fernando Pessoa
in: Obra Poética, vol. 1
VideoPoema por Produções Fictícias/Projeto Voz
Declamado por Raul Solnado

Hiperligação:
Casa Fernando Pessoa





Ai que prazer 
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler 
E não fazer! 
Ler é maçada, 
Estudar é nada. 
Sol doira 
Sem literatura 
O rio corre, bem ou mal, 
Sem edição original. 
E a brisa, essa, 
De tão naturalmente matinal, 
Como o tempo não tem pressa... 

Livros são papéis pintados com tinta. 
Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma. 

Quanto é melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D.Sebastião, 
Quer venha ou não! 

Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 

Flores, música, o luar, e o sol, que peca 
Só quando, em vez de criar, seca. 

Mais que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca...

12 de fevereiro de 2015

“Entre as primaveras e a escuridão“ - uma panorâmica da literatura galega por Isaac Lourido
BECRE XXI quinta-feira, fevereiro 12, 2015 0 comentários

A USALMA, em colaboração com a Biblioteca Escolar da Escola Secundária Cacilhas-Tejo, teve o privilégio de acolher no dia 9 de fevereiro, na referida biblioteca, o Doutor Isaac Lourido, leitor do Centro de Estudos Galegos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa), o qual proferiu uma palestra intitulada “Entre as primaveras e a escuridão: uma breve introdução à história da literatura galega”.


Considerando que a literatura galega não tem tido uma história fácil e não pode, por isso, ser encarada pelos mesmos moldes que outras, Isaac Lourido definiu três vertentes para o seu enquadramento: trata-se de uma literatura (supostamente) “menor”, em comparação com as chamadas “grandes literaturas” (francesa, espanhola, portuguesa); a literatura galega é constituída apenas por textos escritos em galego, excluindo, portanto, as obras em castelhano; os seus autores têm-se vinculado à reivindicação e construção da identidade galega.


O orador apresentou depois uma proposta de periodização da literatura em galego, da época medieval à atualidade, para focar quatro autores: o jogral Martim Codax (meados do século XIII), autor de sete cantigas que chegaram até nós acompanhadas de notação musical (pergaminho de Vindel: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pergaminho_Vindel); Rosalia de Castro (1837-1885), figura tutelar do “Rexurdimento” literário galego e símbolo identitário da Galiza; Castelao (1886-1850), notabilizado não só pela sua ação política mas também pela sua veia humorista plasmada nos “cartoons” e nas estampas que produziu nos anos 20 e 30 do século passado; e Pilar Pallarés (1957-...), voz que reafirma hoje o papel da mulheres como protagonistas do processo de criação poética e literária em língua galega.


Um momento para dúvidas e questões rematou a sessão, tendo o público participado com vivacidade e genuíno interesse, como se comprova pela avaliação da atividade cujos dados se divulgam.


Carlos Rocha (texto)
José Fernando Vasco (fotos e avaliação)

«Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra» de Álvaro de Campos
BECRE XXI quinta-feira, fevereiro 12, 2015 0 comentários

«Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra» (1928)
Poema de Álvaro de Campos, in: Poesias (1944)
Declamado por Rui Morrison
VideoPoema por Produções Fictícias/Projecto Voz

Hiperligação:



Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,
Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!
Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!
À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.
À direita o campo aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa onde estou fechado,
Que só posso conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.
À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.
Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.
Talvez à criança espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima
Fiquei (com o automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real.
Talvez à rapariga que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento térreo,
Sou qualquer coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,
E ela me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi.
Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?
Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?
Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida.
Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...

Fonte:
Videopoesia

11 de fevereiro de 2015

«Menino de sua mãe» de Fernando Pessoa
BECRE XXI quarta-feira, fevereiro 11, 2015 0 comentários

«Menino de sua mãe» (1926)
Poema de Fernando Pessoa
in: Poesia 1918-1930

Declamado por Luís Gaspar
Videopoema por Quadrante Digital

Hiperligações:
Casa Fernando Pessoa
Assírio & Alvim



No plaino abandonado  
Que a morna brisa aquece,  
De balas traspassado —  
Duas, de lado a lado —, 
Jaz morto, e arrefece.
  
Raia-lhe a farda o sangue.  
De braços estendidos,  
Alvo, louro, exangue,  
Fita com olhar langue  
E cego os céus perdidos.
  
Tão jovem! que jovem era!  
(Agora que idade tem?)  
Filho único, a mãe lhe dera  
Um nome e o mantivera:  
"O menino da sua mãe".
  
Caiu-lhe da algibeira  
A cigarreira breve.  
Dera-lhe a mãe. Está inteira  
E boa a cigarreira.  
Ele é que já não serve.
  
De outra algibeira, alada  
Ponta a roçar o solo,  
A brancura embainhada  
De um lenço... Deu-lho a criada  
Velha que o trouxe ao colo.
  
Lá longe, em casa, há a prece:  
"Que volte cedo, e bem!"  
(Malhas que o Império tece!)  
Jaz morto, e apodrece,  
O menino da sua mãe.

Fonte:
Videopoesia

10 de fevereiro de 2015

IN2 THE FUTURE / MINI-FÓRUM ESTUDANTE 2015 - a programação
BECRE XXI terça-feira, fevereiro 10, 2015 0 comentários

A ES de Cacilhas-Tejo preparou uma grande surpresa para receber os alunos após a interrupção do Carnaval: o IN2 The Future - Mini Fórum Estudante 2015.

Nos dias 19 e 20 de fevereiro, vamos estar em festa educativa, oferendo um vasto conjunto de atividades para ajudar os alunos a tomarem consciência das múltiplas ofertas formativas, disponíveis pós ensino secundário.

Na manhã de 19 (quinta feira) teremos Inspiring Future, animando sessões sobre o acesso ao Ensino Superior; e workshops sobre tomadas de decisão e adoção de atitudes assertivas na entrada no mundo do trabalho para os alunos do 12º ano.

Mas teremos muito mais!

Podes encontrar masterclasses sobre economia e ambiente, um painel com ex-alunos - dedicado aos alunos de 10º ano; e um painel com pais, dedicado aos alunos de 11º ano. 

Fala com o teu Diretor de Turma e vê onde estás inscrito! Consulta a programação!

PROGRAMAÇÃO GERAL

INSPIRING FUTURE
- 19 FEV 2015 -



Teresa Castanheira
(SPO / Coordenação IN2 The Future)