“O processo de normalização do
mirandês” foi o título da conferência proferida em 20 de abril, na Escola
Secundária de Cacilhas-Tejo (ESCT), pelo linguista José Pedro Ferreira,
investigador no Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada-Instituto de
Linguística Teórica e Computacional (CELGA-ILTEC),
Universidade de Coimbra), a convite da USALMA, em colaboração com a Biblioteca
Escolar da ESCT e com o apoio da Associação 8 Séculos de
Língua Portuguesa.
No começo da sessão, intervieram alguns dos presentes para evocar a personalidade e a obra de Amadeu Ferreira (1950-2015), pai do conferencista e grande impulsionador da normalização do mirandês. A Professora Alexandra Pedro pôde recordar uma palestra realizada em 2010, na ESCT, em que Amadeu Ferreira soube cativar os alunos do ensino regular com histórias, costumes e palavras da Terra de Miranda.
José Pedro Ferreira interveio
logo depois para fazer uma breve contextualização histórico-geográfica do
mirandês, apresentando-o como língua implantada no extremo oriental do distrito
de Bragança e pertencente ao sistema dialetal asturo-leonês. Teceu em seguida considerações
sobre o mirandês na atualidade, facultando dados sociolinguísticos relativos à situação
de diglossia da população mirandesa (existe bilinguismo, mas o mirandês e o
português ocupam âmbitos diferentes, limitando-se o primeiro à vida em família
e no campo), a evolução demográfica (progressiva perda de falantes) e a
presença da língua no currículo das escolas locais. O conferencista definiu ainda
as etapas do processo de normalização do mirandês – de língua ágrafa (sem
tradição escrita), antes de finais século XIX, até aos estudos pioneiros do grande
filólogo que foi J.
Leite de Vasconcelos (1858-1941), os quais marcaram o arranque de um
processo que culminou na atribuição, em 1999, do estatuto de língua oficial em
Portugal. O alargamento da esfera de usos (por exemplo, na Internet) e o aparecimento
de uma literatura cada vez mais diversificada são aspetos a salientar nas
tendências de evolução recente deste idioma.
Os tópicos abordados foram uma oportunidade única para refletir sobre as várias dimensões que
definem uma língua enquanto fator de construção identitária, não deixando de
ter incidência nas próprias representações do passado e do futuro da língua
portuguesa. José Pedro Ferreira conseguiu, assim, despertar o interesse de toda
a assistência, como patenteou a pertinência das várias questões levantadas na
discussão final.
Divulgam-se os dados relativos à avaliação da atividade:
Carlos Rocha
(texto)
Mário Neves
(fotografias 1 a 4)
Mário Neves
(fotografias 1 a 4)
José Fernando Vasco
(fotografia 5 e tratamento estatístico)
0 comentários
Enviar um comentário