4 de junho de 2015

«Leituras de Abril» - uma visão sobre o 6º Bibliotecando em Tomar (parte 2/2)
BECRE XXI quinta-feira, junho 04, 2015 0 comentários


José-Augusto França – Antes de 74
Após a 2ª guerra mundial, a tentativa modernizante no gosto, com contributo decisivo de António Ferro (SPN), encontrou obstáculos num país ainda dominado pelo naturalismo, com forte presença na exposição geral de artes plásticas. Nesse processo, José-Augusto França destacou a primeira exposição de Vieira da Silva em Portugal (1970), a substituição dos quadros da Brasileira do Chiado (1971), a recusa de artistas estrangeiros exporem em Portugal por causa da guerra colonial, a exposição de quadros de Picasso e Klee pela primeira vez em Portugal (1972), a inauguração da obra de Cutileiro (D. Sebastião) em Lagos (1973) e o painel de 48 pintores no 10 de junho de 1974. A frustrada exposição de pintura portuguesa no Museu Municipal de Paris, impedida de se realizar por trapalhada política, é um sinal das dificuldades nesse percurso até 1974-1975.

Marco Daniel Duarte - Imagens de Abril na Cidade Universitária de Coimbra (videoconferência).«Toda a obra de arte é filha do seu tempo e mãe dos nossos sentimentos» (Wassili Kandinsky)
A partir de Roma e em videoconferência, Marco Daniel Duarte orientou um percurso pela arquitetura e pintura, com o contributo de Fernando Conduto (escultura abstrata), João Nascimento (pintura neo decorativa com influências do surrealismo espacial) e Maria Manuela Madureira («Para além de Saturno», painel de azulejo).

 Cristina Tavares – Representações de Abril na Arte
A investigadora evidenciou as mudanças ocorridas com a década de 1960, a partir dos meios universitários e de contestação. Destacou os contributos de organizações, artistas e momentos criativos como a AICA, Paula Rego, Joaquim Rodrigo, João Cutileiro, Clara Meneres, Rui Filipe, Nikias Skapinakis, José Aurélio, o coletivo do painel de 10 de junho de 1974, Maria Helena Vieira da Silva (cartazes), a ACRE …

Rui Serrano - Falemos de casas, «do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve no tempo mais antigo.» (Herberto Hélder)
A arquitetura teve um papel preponderante na mudança pós 25 de Abril, nos domínios da habitação social, arquitetura religiosa, participativa, na reinvenção do desenho e planeamento urbanos com novas formas de intervenção e na arquitetura vernacular, como intervenção de salvaguarda do património, em prol da identidade nacional.


Pedro Pezarat Correia - O 25 de Abril e imprensa, expressão do reencontro da cidadania. 
Antes de Abril, a repressão era constante através da censura. O tratamento jornalístico da guerra colonial fez com que muitos portugueses só despertassem para o problema quando contactavam com a realidade: a responsabilidade do regime ao recusar negociações. Com o 25 de Abril, “explodiu” a liberdade com reflexos na imprensa: passou-se por um período de anarquia, com problemas nos órgãos de comunicação social: casos do República, O Século, Rádio Renascença... Apareceram jornais de todas as tendências: O Jornal Novo, O Diário, A Rua... Após o PREC, deu-se a progressiva domesticação da imprensa. Atualmente, o maior desafio é o colocado pelas redes sociais.

São José Almeida - Sobre o mundo dos jornais. 
Desde o 25 de Abril, profundas mudanças na imprensa e nas relações entre esta e sociedade têm ocorrido: o aumento exponencial da importância do audiovisual, a explosão do imediatismo; a quebra de vendas provocada pela crise e pelo online, a regressão no estatuto social do jornalista e as modificações no processo de produção da notícia.

José Luís Ramos Pinheiro - À procura do futuro
Uma das reflexões necessárias é em torno da liberdade, cuja ausência é impensável mas possível. Sendo a liberdade mais individual do que social, ter direito a ela é uma coisa, outra é exercê-la, poder exercê-la ou saber exercê-la. Um dos entraves é o seu condicionamento pelo politicamente correto, outro é o impacto dos ecrãs, da internet e das redes sociais que originaram novas exclusões. A imprensa é hoje muito diferente pois a internet democratizou a comunicação, sendo no entanto preciso encontrar caminhos e meios de escrutínio. Como rentabilizar os media? É preciso reinventar os media na sua função e viabilização económica e são necessários agregadores de credibilidade. Deverá ser mantida a comunicação de tudo para todos? A resposta está na diferenciação e no pluralismo numa abordagem qualitativa e não meramente quantitativa.



Tudo o que dizemos ou escrevemos é sempre subjetivo e pessoal, embora se deva ser imparcial para se ser universal. Antes do 25 de Abril, apesar das palavras proibidas, a literatura e a arte não morreram: se a palavra liberdade era proibida... rio, vento... Teolinda Gersão afirmou sempre se sentir compelida a dar testemunho do seu tempo.





Pese embora as ausências de Lídia Jorge (por motivo de doença) e de José Gomes Ferreira, Bibliotecando em Tomar cumpriu os seus objetivos e proporcionou ao professor bibliotecário da ES Cacilhas-Tejo momentos de reflexão e caminhos possíveis a percorrer no futuro, em termos de intervenção pedagógica, quer em contexto de aula (História A ou de História da Cultura e das Artes) quer em contexto de biblioteca escolar, nomeadamente na adoção de medidas ampliadoras do acesso livre à informação por parte dos utilizadores da biblioteca; e na definição de programas pedagógicos com atividades indutoras da preservação ativa da memória histórica e cultural, essencial para o reforço da identidade coletiva local e nacional.
Publicado por José Fernando Vasco Professor Bibliotecário
Escola Secundária de Cacilhas-Tejo
2009-2013; 2014-...
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