18 de novembro de 2014

CINEARTE I - «Horizontes de Glória» no Dia da Filosofia
BECRE XXI terça-feira, novembro 18, 2014 0 comentários

Inserida na comemoração do Dia da Filosofia e numa iniciativa do Departamento homónimo e da BECRE, a primeira sessão do programa CineArte é dedicada a um dos mais impressionantes filmes de Stanley Kubrick, então ainda na fase inicial do seu percurso de cineasta.
Sendo que o programa deste ano letivo é dedicado aos 100 anos da I Guerra Mundial e aos 70 anos do fim da II Guerra Mundial, «Horizontes de Glória (1957) constitui um excelente ponto de partida.

Título Original: Paths of Glory
Realização: Stanley Kubrick
Principais Actores: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Christiane Kubrick, Joe Turkel

Crítica:

A TERRA DE NINGUÉM

Too much has happened. Someone's got to be hurt.
The only question is who.

«Um olhar perfeccionista e implacável, sobre o inferno das trincheiras e a monstruosidade do ser humano. Um preto e branco imaculado, na sublimação visual da elegância - afinal, a fotografia de Horizontes de Glória, a cargo de Georg Krause, concretiza a excelência visionária e todo o potencial da mise-en-scène. Zooms, travellings, planos-sequência de cortar a respiração e de detalhes preci(o)sos, sublimes enquadramentos em deep focus, uma arte de filmar que gere de forma irrepreensível a poderosa carga de emoções que a história e as performances dos actores elevam, consistentemente.

O argumento, a partir do romance de Humphrey Cobb e adaptado a três mãos (entre Kubrick, Calder Willingham e Jik Thompson), é dotado de uma prodigiosa economia narrativa, fazendo evoluir a diegese - cena a cena - com uma coesão notável. E a cada cena, mais magistral do que a anterior, os diálogos memoráveis arrebatam-nos e fazem-nos tomar consciência do quão prazeroso é assistir ao filme. As cadências premeditadas da montagem (Eva Kroll) são imprescindíveis para o sucesso narrativo. Sublimes, as interpretações de Adolphe Menjou (general George Broulard), Ralph Meeker (capitão Philippe Paris) e do destemido Kirk Douglas, o coronel Dax que primeiramente acata as ordens superiores sem as questionar e que depois afrontará todas as autoridades na defesa dos soldados injustamente acusados pela missão fracassada e convertida num impiedoso e sangrento massacre. 

Gentlemen of the court,
there are times that I'm ashamed to be a member of the human race
and this is one such occasion.

O tom irónico e corrosivo das melhores obras do realizador está sempre presente, como um fio condutor ou marca de estilo, denunciando e ridicularizando a cegueira e a arrogância, o abuso de poder e a injustiça; em suma, a falta de humanidade que parece abundar entre a frieza e o cinismo, a hipocrisia e a loucura do lado da guerra. A prepotência do general Paul Mireau (George Macready), que cruelmente vinga a indisciplina e a insubordinação contra as suas ordens ambiciosas e suicidas, expõe a vergonha do ser humano. There are few things more fundamentally encouraging and stimulating than seeing someone else die. Em tempo de guerra, os inimigos estão inclusivé na hierarquia que delibera a nossa patente. 

Tecnicamente, Horizontes de Glória mostra-se perfeitamente executado. Note-se o som e excepcional montagem dos seus efeitos, note-se a sensível aplicação da música e dos silêncios ou todo o brilhantismo da direcção artística, seja no campo de guerra como no glamour do baile. A cena final, onde a música se revela como linguagem universal, vem preencher de compaixão e sentimento todo o humanismo reclamado ao longo da obra e personificado, na primeira pessoa, pelo coronel Dax. Sem dúvida, um dos melhores filmes de guerra jamais feitos. Absolutamente marcante. A excelência da obra é tal que não me admirarei se, no futuro, vier a considerá-la uma incontestável obra-prima.»

Fonte:

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Publicado por José Fernando Vasco Professor Bibliotecário
Escola Secundária de Cacilhas-Tejo
2009-2013; 2014-...
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